Dra. Mafalda Pinto-Coelho
Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Apoio à
Mulher com Cancro da Mama
Desde o início, o projeto de publicação do livro Cancro
com Humor foi pensado com um objetivo solidário. Tanto a editora Livros de Ontem como a autora do livro, Marine Antunes, reconheceram de
imediato que um livro como o Cancro com Humor apenas faria
sentido enquanto servisse como veículo de ajuda para alguém: seja através de
toda a sabedoria expressa no livro como através de uma campanha solidária associada
à sua compra.
O livro Cancro com Humor foi feito a pensar
nos leitores, um testemunho pessoal, diferente e divertido para ajudar quem tem
de lidar de perto com o cancro. Tem, nesse sentido, uma lógica inerente de
contato direto e permanente com o público, crescendo à medida de cada
contributo dos leitores.
É, no fundo, uma forma
de retribuir à sociedade, diretamente a quem mais precisa, todo o apoio e
carinho que os leitores têm dado tanto à editora como ao projeto e livro Cancro
com Humor. É neste âmbito que a editora Livros de Ontem irá doar 1€ por cada exemplar vendido do livro Cancro
com Humor à Associação Portuguesa
de Apoio à Mulher com Cancro da Mama, no que se acredita ser um sincero
agradecimento e reconhecimento público por todo o bom trabalho que têm vindo a
desempenhar na luta contra esta doença.
Em
entrevista à Livros de Ontem, a Dra. Mafalda Pinto-Coelho, Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com
Cancro da Mama, explicou em que estado está a luta contra o cancro em
Portugal.
João Batista
- Dra. Mafalda Pinto Coelho, gostaria
de iniciar esta entrevista traçando um quadro geral sobre o estado da luta
contra o cancro em Portugal. Quais os desafios,
quais as dificuldades e quais as grandes conquistas que já foram feitas?
Mafalda
Pinto Coelho - O Carcinoma da mama é a doença oncológica mais frequente
no sexo feminino, com uma incidência estimada de perto de 5000 casos/ano na
população portuguesa.
A diminuição do número
da mortalidade por carcinoma da mama na população portuguesa já demonstra a
eficácia dos esforços daqueles que iniciaram os programas de rastreio
mamográfico no nosso país.
A medicina faz o seu
papel tentando tratar e curar uma doença cuja grande complexidade reside nos
inúmeros factores genéticos, ambientais e sociais que a condicionam. Cabe a
cada mulher um papel fundamental, a ajuda no diagnóstico precoce, a vigilância
e o rastreio. A mulher portuguesa faz o seu papel?
JB – No seguimento da sua interrogação, pergunto-lhe: as
mentalidades ainda são um entrave à luta contra o cancro? As pessoas só se
preocupam com a doença e o seu impacto social quando esta lhes bate à porta?
MPC
- Tudo se tem feitos nos últimos anos para que a mulher portuguesa se encontre
mais sensibilizada para a importância da prevenção e do rastreio mamário e
ginecológico a fim de possibilitar um diagnóstico precoce. No entanto, ainda há
muitas mulheres que não tem por hábito ir ao ginecologista, uma ou duas vezes
ao ano, para serem observadas e efectuarem os exames de rotina. É, assim,
fundamental veicular junto das mulheres e seus médicos assistentes as vantagens
da realização regular destes exames de rastreio de modo a conseguir uma
cobertura populacional tão grande quanto possível, que acarrete a médio prazo
uma mudança radical da realidade desta doença.
JB – Projetos e livros como o Cancro com Humor podem
ser a solução ou, pelo menos, fazer parte dela no sentido de subverter este
paradigma?
MPC
- Sim, sem dúvida!
Este livro é fascinante
pela frescura que imprime e pela sabedoria envolta num traje naïf, na medida em
que nos ensina que mais vale rirmo-nos do nosso destino e aceitá-lo, do que
revoltarmo-nos contra aquilo que jamais poderemos controlar.
Assim, é na partilha da
sua crença de que a vida se leva a rir e na forma de encarar a experiência do
que é “ter cancro” que este livro colabora, decisivamente, na abertura de
janelas de luz nos muitos edifícios de escuridão que giram à nossa volta.
JB - O que acha da forma como o cancro tem sido tratado
junto da opinião pública, especialmente na área da literatura?
MPC
- Na minha opinião muito se tem escrito e falado sobre “cancro”. Esta situação permite
não só a desmistificação desta doença, como também a sensibilização e educação da
mulher para a importância da realização regular dos exames de rastreio de modo
a conseguir-se uma cobertura populacional tão grande quanto possível.
JB - O testemunho triste e pesado de doentes oncológicos
com peso junto
da opinião pública ajuda ou dificulta a sensibilização social e a
desmistificação da doença?
MPC
- Não podemos negar que esta doença traz consigo sentimentos de limitação,
inadequação, revolta, medo e perda de autoestima. A própria doença nos ensina
que a morte é parte integrante da vida, que todos morremos um dia, da mesma
forma que nascemos. Que viver não passa duma misteriosa viagem, mais curta e
dolorosa para alguns, duma experiência imperdível e marcante para todo e
qualquer ser humano. Todos os testemunhos são válidos, uns mais positivos que
outros consoante a experiencia de cada um, porque, acima de tudo, alertam para
uma realidade que não podendo ser alterada pode, pelo menos, ser prevenida.
JB - Qual tem sido o papel da Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama na luta
contra o cancro?
MPC - A APAMCM ao
longo dos seus 15 anos de vida acredita estar a conseguir minorizar as
fragilidades existentes no sistema de saúde. Oferece a toda a população uma
panóplia de apoios terapêuticos prestados por uma equipa de profissionais de
saúde muito credível, durante toda a semana, de forma rápida e gratuita ou a
custo assistencial. Divide-se em três grandes áreas: médica, fisioterapia e
psicologia.
o
Consultas:
o Triagem (1ª vez)
o Medicina Geral e
Familiar
o Cirurgia da Mama (2ª
opinião)
o Fisiatria
o Ginecologia (rastreio
mamário e ginecológico)
o Dermatologia
o Psiquiatria
o Nutrição
o Osteopatia
o
Serviço de Medicina Física e Reabilitação | Centro Especializado em Fisioterapia
Oncológica (galardoado com o Premio Boas Práticas em Saúde);
o
Serviço Psicologia (terapia individual | terapia familiar | terapia de
grupo | ludoterapia);
JB - A venda do livro Cancro com Humor irá reverter, em parte, para esta casa. Existe
alguma necessidade urgente na qual este dinheiro será aplicado?
MPC - Parte deste dinheiro será aplicado na nova consulta
de ginecologia que tem como objectivo primordial a oferta do rastreio
mamário e ginecológico à mulher. Abre ao público, na sede da APAMCM, dia 25 de Novembro. Encontramo-nos
a angariar dinheiro para os materiais consumíveis e descartáveis, um software de gestão clínica e, ainda, para
a aquisição de um ecógrafo no decorrer do ano 2014.
JB - Este tipo de apoios são fundamentais para o
funcionamento da Associação ou apenas contribuições pontuais para realizar
projetos específicos?
MPC - Todos os projetos em que a APAMCM
se envolve são fundamentais para a gestão de todos os serviços de saúde e do
quotidiano laboral desta instituição de saúde. Cada serviço de saúde necessita
estar adaptado às reais carências dos seus utentes, modernizado e devidamente
equipado com materiais hospitalares necessários ao tipo de tratamento que
presta.
A APAMCM não tem qualquer apoio
financeiro por parte da sua tutela e portanto dinamizar processos de captação
de fundos é vital para que consiga manter-se aberta ao público e autónoma
financeiramente.
JB - A autora Marine Antunes tem estado envolvida com
esta Associação. O que pode dizer sobre a autora deste livro?
MPC - A Marine Antunes realizou em
Junho deste ano um encontro de Cancro com
Humor na nossa sede dirigido aos nossos associados com patologia
oncológica. Foi uma tarde bem passada onde a troca de vivências se efectuou em
alegria. Apesar de jovem a autora denota grande sensibilidade, maturidade e é
muito voluntariosa.
JB - O livro Cancro
com Humor aborda um tema muito sensível de uma maneira nova e arrojada.
Como tal, existe sempre a possibilidade de ser mal compreendido.
Acha
que a abordagem do livro é pertinente para o tema tratado?
MPC - Como escrevi no meu posfácio, Marine
Antunes não é uma escritora no sentido convencional do termo – alguém que
se dedica à escrita – mas sim uma sábia alma num corpo de menina que, a dada
altura, sentiu necessidade de partilhar com o mundo uma genial ferramenta que
encontrou dentro de si – o Humor – que a ajudou a lidar com a dor, a frustração
e o medo de morrer.
Claro que há pessoas que lidam com a doença de outras formas e o humor para
elas pode não ser o caminho ideal para gerirem as suas emoções. É algo que
devemos respeitar. Aquilo que pode ajudar uns nem sempre se aplica de forma
universal. Mas na verdade a rir a vida torna-se sempre mais fácil, mesmo nos
períodos de profunda tristeza.
JB - A Dra. Mafalda Pinto Coelho foi convidada para escrever o posfácio do
livro. Como foi fazer parte deste livro e o que pode desvendar aos nossos
leitores?
MPC - Foi uma viagem interessante entrar no mundo íntimo da autora, viajar
pelas suas inúmeras emoções, sentir as transformações interiores dos seus sentires,
vestir a sua pele e tentar compreender o que vivenciou com aquela experiencia.
Quando nos colocamos no lugar do outro aprendemos sempre imenso acerca de nós
próprios.
O livro poder ser adquirido através do site da editora: http://bit.ly/1dhCYtK